OPINIÃO SOBRE BAG IN BOX ...
Embalagem de cartão? Perca os preconceitos
Embalagem de cartão? Perca os preconceitos
João Paulo Martins
17 de Mar de 2010
Há muito bom consumidor que torce o nariz quando se fala de vinho em embalagem de cartão. Há razões antigas para esse receio: até há pouco, o vinho em cartão passava por ser o mais banal, para não dizer ordinário, produto vínico que circulava no mercado. Não fazia mal à saúde, é certo, mas era um produto neutro, sem alma e na maior parte dos casos sem origem definida. Muito vinho que cá era empacotado provinha da América do Sul ou do Norte de África e era depois vendido como vinho de mesa, categoria que não obriga à identificação do local de origem do conteúdo do pacote.
Nos últimos anos, a situação alterou-se, por via do aparecimento do bag-in-box, uma caixa de cartão contendo dentro um saco com vinho. A diferença prende-se com o facto de este novo modelo contemplar uma torneira que se acciona para servir o vinho e também com a novidade de o vinho não oxidar, porque o saco vai 'emagrecendo' à medida que o vinho sai e porque não entra ar, que é, como se sabe, o responsável pela oxidação.
Uma embalagem de 2 litros cabe perfeitamente no frigorífico, e assim o pequeno consumidor pode tranquilamente demorar um mês a consumir o seu vinho branco, sempre fresco e sempre jovem.
A grande mudança da qualidade destes vinhos deu-se quando muitos mercados externos começaram a preferir sobretudo vinhos nestas embalagens. Foi assim nos mercados nórdicos, e tal obrigou, por exemplo, a casa José Maria da Fonseca a vender a sua principal marca - Periquita - nestas novas embalagens, tal como a marca Montado, esta para o mercado interno, Brasil e Angola. Ao todo, estamos a falar de 2 milhões de litros; também a empresa duriense Lavradores de Feitoria exporta para a Noruega 200 mil embalagens de 2 litros da sua marca Douro, e a cooperativa de Santa Marta de Penaguião, a campeã regional neste segmento, comercializa entre 70% a 80% da sua produção em bag-in-box, perfazendo 1.570.000 embalagens de 5 litros.
Muitos outros produtores de nome já comercializam parte (mercado externo) da sua produção nestes formatos, como João Portugal Ramos, Casa Ermelinda Freitas, a maioria das cooperativas alentejanas e a cooperativa de Almeirim, que também vende a sua marca-âncora - Lezíria - em bag-in-box. Desta forma, ainda que lentamente, os consumidores começaram a desfazer-se dos preconceitos e a perceber que, para quem consome muito lentamente, este tipo de embalagem só tem vantagens.
A Casa Santos Lima, da Estremadura, apresenta agora a sua marca Bipartito, que virá, creio, revolucionar este mercado. A ideia do produtor José Luís Oliveira da Silva (na foto) é simples, qual ovo de Colombo: em vez de um, existem dois sacos dentro da embalagem, cada um com a sua torneira, e em cada saco há um vinho de uma casta diferente. Nesta embalagem, que agora comercializa, temos Castelão (a casta mais plantada) e Touriga Nacional (a mais famosa), e ao consumidor é deixada a escolha do lote que vai beber: hoje só Touriga, amanhã Castelão com um toque de Touriga, enfim, uma multiplicidade de escolhas.
A novidade, que não se duvida será adoptada a nível mundial, foi competentemente registada como patente, até porque a ideia permite uma multiplicidade de aplicações, jogando com brancos e tintos, por exemplo, uns com aromas de madeira e outros sem, uns mais frutados e outros mais taninosos.
A partir de agora, o horizonte é o limite. Os apreciadores do vinho verde é que não têm sorte nenhuma: aquela pontinha de gás que tanto apreciam no vinho não funciona nesta embalagem, porque a faria rebentar. Por essa razão, os estatutos da região obrigam a embalagem de vidro para produtos que tenham a denominação de vinho verde.
O Bipartito começou por ser distribuído no grupo Auchan e tem um PVP de €7,89.
Publicado na Revista Única do Expresso de 13 de Março de 2010
EDUARDO TLACH
Publicado na Revista Única do Expresso de 13 de Março de 2010
EDUARDO TLACH
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