A Reação do Vinho Brasileiro

Segue, matéria e foto, publicada no Jornal do Comercio, caderno Painel Economico, do jornalista Danilo Ucha. (http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=26720)

O brasileiro ainda precisa beber muito vinho nacional para desbancar o vinho estrangeiro. Em 2009, o País consumiu 13,05 milhões de litros de vinhos finos produzidos em seu território (90% no Rio Grande do Sul) e 59,13 milhões de litros de vinhos importados. A indústria vinícola nacional - com suas 1.200 cantinas, 220 das quais dedicadas ao vinho fino - faturou, em 2009, R$ 2,5 bilhões, enquanto o vinho importado vendeu R$ 900 milhões. Apesar desta supremacia dos estrangeiros, os vitivinicultores brasileiros não se entregaram. Os investimentos em parreirais, em tecnologia nas cantinas e na distribuição começaram a dar resultados. Em 2009, as vendas de vinhos finos produzidos no País cresceram 14,6%, enquanto a dos importados alcançou apenas 2% de crescimento. De acordo com o presidente do Ibravin, Julio Fante, os investimentos vão continuar, as vinícolas grandes estão ficando maiores, se equiparando às de outros países, e as pequenas estão trabalhando em conjunto para crescerem. Fante acredita que, em 2025, o vinho nacional de qualidade terá 80% do mercado brasileiro, contra os 18% que detém hoje.

Dez melhores

Três vinhos brasileiros foram selecionados entre os dez melhores vinhos do concurso Top Ten, cujos resultados foram apresentados no primeiro dia da Expovinis. Entre os espumantes nacionais, o Grand Legado Brut Champenoise, da Wine Park, de Garibaldi, ficou em primeiro lugar. Entre os vinhos brancos chardonnay, o Villagio Grando 2008, da vinícola Villagio Grando, de Santa Catarina, conquistou o primeiro lugar. Entre os tintos nacionais, o Sesmarias 2008, o famoso vinho de US$ 100,00, desenvolvido pelo enólogo Adriano Miolo, na Fortaleza do Seival, em Candiota, deu o primeiro lugar para o Miolo Wine Group.

Preço e distribuição

Entre os obstáculos que o vinho brasileiro terá que vencer para crescer econômica e financeiramente estão preço e distribuição. O vinho nacional é considerado “muito caro” pela maioria dos consumidores e os próprios produtores admitem que a distribuição, em termos de País, é muito malfeita. Há cidades que não têm garrafas de vinho em seus bares, restaurantes e supermercados. Há restaurantes, inclusive famosas churrascarias de Brasília, que oferecem apenas dois ou três rótulos de vinhos nacionais. “Os produtores não vêm oferecer seus produtos”, disse-me um dono de restaurante, domingo à noite, em Brasília. Pelo menos duas grandes empresas gaúchas detectaram o problema e estão montando projetos de logística para melhor distribuir seus produtos, a Miolo, segundo o diretor Adriano Miolo, e a Valduga, segundo a diretora Juciane Casagrande, que acaba de visitar o Norte e o Nordeste.

Os destaques

Há muitos destaques na Expovinis. Aqui estão alguns das vinícolas gaúchas do Vale dos Vinhedos: a Aurora apresenta o Espumante Brut Aurora Pinot Noir; a Casa Valduga, o Storia, 2006, um merlot varietal; a Dom Cândido, os espumantes Dom Cândido e CV, moscatel e um brut; a Don Laurindo, o Estilo 2008, corte de malbec, ancellota e tannat; a Gran Legado, um espumante moscatel premiado com a medalha de ouro no concurso Bachus, na Espanha; a Lidio Carraro, o Elos Touriga Nacional e Tannat 2008; a Millantino, o Millantino Terroldego 2006, um vinho de guarda; a Miolo, três espumantes Miolo Cuvée Tradicion, um brut, um brut rosé e a versão demi-sec; a Pizzato, o DNA 99 Pizzato2005, um varietal merlot.

Os estrangeiros

Os demais vencedores do Top Ten foram estrangeiros. Entre os espumantes importados, ganhou o Ferrar Perle´ 2002, da vinícola Ferrari, importado pela Decanter; o sauvignon blanc ganhador foi o Yealands Estate 2009, da Yeland State, da Nova Zelândia; em brancos de outras castas, ganhou o Mesh Riesling 2007, da Grosst-Hill Smith, importado pela KMM; na categoria vinho rosado, ganhou o Chatêau de Pourcieux 2009, da Provence, na França, importado pela Cantu; na categoria tinto novo mundo, o vencedor foi Morandé Grand Reserva Syrah 2005, da Morandé, do Chile, importado por Carvalhido; em tinto velho mundo, ganhou Herdade do Esporão Touriga Nacional 2007, da Herdade do Esporão, de Portugal, importado pela Qualimpor; e, finalmente, em vinho fortificado, venceu o Madeira Justinos´ Colheita 1995, da Justino Henrique, de Portugal, importado pela Porto a Porto.

Peruzzo

A vinícola Peruzzo, de Bagé, está entre as que montaram estande junto com o Ibravin, mostrando três espumantes - Peruzzo Extra Brut, Peruzzo Brut e Peruzzo Demi-Sec - e os tintos Peruzzo Cabernet Sauvignon, Peruzzo Cabernet Sauvignon-Merlot e o branco Peruzzo Chardonay. Éder Peruzzo, diretor da vinícola, prometeu o lançamento do Cabernet-Merlot 2008 para o próximo mês de maio, com festa em Bagé.

Primeiro passo

Um primeiro passo a demonstrar o despertar dos vitivinicultores brasileiros para as oportunidades na venda de vinhos está sendo dado na Expovinis 2010, aqui em São Paulo, onde 43 vinícolas foram reunidas pelo Instituto Brasileiro do Vinho num estande de 676 m2 e estão mostrando o melhor de sua produção. E, importante, com os próprios proprietários atendendo aos visitantes, em sua maioria comerciantes de bebidas de todo o País, importadores, jornalistas de vinho e enófilos. Algumas das mais conhecidas, como Miolo, Valduga e Lidio Carraro, além de participarem do estande Vinhos do Brasil, montaram estruturas próprias. Onze empresas estão estreando na feira, segundo Diogo Bertolini, gerente de promoção e mar-keting do Ibravin: Mioranza, Galiotto, Dom Cândido, Dom Bonifácio, Gran Legado, Aliprandini, Antônio Dias, Don Giovanni, Don Laurindo, Guatambu e Campos de Cima. No próximo ano, o Ibravin espera trazer 60 vinícolas.

Domno

Outra jovem vinícola gaúcha, a Domno, de Garibaldi, trouxe a São Paulo, além de novos produtos próprios, vinhos que passou a importar de Portugal e da Argentina para distribuir no Brasil. As novidades são os espumantes Extra Brut, Nero e Brut Alto Vale, premiados recentemente no exterior com medalhas de ouro. Os lançamentos são o Prosecco Alto Vale, elaborado com 100% de uvas prosecco, com 10 graus de álcool, e o cabernet sauvignon seco, para fazer companhia ao já existente meio-seco. Os vinhos estrangeiros selecionados para distribuição são os portugueses Alma Grande, Magna Carta, Romeira, Catedral, Serradayres, Devesa e Vinhas Altas, do Grupo Caves Velhas; e os argentinos Tomero, da Vistalba, dois deles com 91 e 90 pontos de Robert Parker. Jones Fontanive Valduga, diretor da Domno, está entusiasmado com o crescimento da vinícola, criada há apenas um ano e sete meses.


Eduardo Tlach

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